FIV e FeLV são doenças que geram preocupação em qualquer um que ame gatinhos. É compreensível, já que elas são conhecidas por serem silenciosas, altamente transmissíveis e sem cura. Mas com informação e cuidados adequados, é possível proteger os pets saudáveis e dar qualidade de vida aos portadores dessas condições.
A imunodeficiência felina (FIV) e a leucemia viral felina (FeLV) são causadas por vírus que afetam o sistema imunológico. Para lidar com elas, o diagnóstico precoce é fundamental. Ele pode assustar, mas com o manejo correto e acompanhamento veterinário, muitos gatinhos positivados levam uma vida plena e feliz.
Para entender melhor essas doenças, como elas são transmitidas, quais são os sinais e como proteger o seu gato, contamos com o apoio da Dra. Isadora Fappi, médica veterinária especializada em clínica médica de pequenos animais e certificada catfriendly veterinarian pela Feline Veterinary Medical Association.
Confira tudo a seguir!
O que são FIV e FeLV?
Se você já adotou ou está pensando em adotar um gatinho, provavelmente já viu ONGs e protetores de animais informando se o pet foi testado para FIV e FeLV. Mas por que esse teste é tão importante? O que essas doenças significam na prática? Veja abaixo!
“FIV corresponde ao vírus da imunodeficiência felina, enquanto FeLV ao vírus da leucemia viral felina. Ambos são responsáveis por causar doenças que não possuem cura, ou seja, não há um tratamento que as elimine do paciente, porém existem medidas para promover qualidade de vida em animais soropositivos.“
- Dra. Isadora Fappi
Tanto a gravidade das doenças, quanto a possibilidade de um gatinho positivo levar uma vida agradável, são fatores que tornam a testagem e prevenção algo tão relevante. Por isso, quando alguém adota ou resgata um gato, o teste para FIV e FeLV é um dos primeiros cuidados recomendados pelos médicos veterinários.
Algumas instituições, como a ONG Adote Um Gatinho, testam cada pet antes de colocá-los para adoção.
Em casos de boas notícias (resultado negativo), o novo tutor tem maior tranquilidade quanto à saúde do pet. Já em casos positivos, o familiar pode tomar as medidas necessárias para evitar que a doença se espalhe e, tão importante quanto, promover qualidade de vida ao pet infectado.
Como ocorre a transmissão?
Tanto a FIV quanto a FeLV são doenças virais que se espalham principalmente pelo contato entre gatos. Segundo a Dra. Isadora Fappi, alguns fatores podem elevar o risco de contágio.
“Há maior predisposição à infecção e transmissão de tais vírus em animais jovens (de 1 a 6 anos), habitantes de ambientes multi-cat, machos inteiros, com livre acesso à rua.”
Todos esses fatores contribuem para a ocorrência de disputas sociais, seja por fêmeas no cio, por território, por recursos, etc. E, no mundo dos gatos, disputas significam brigas que, por sua vez, significam mordidas. E aí está o X da questão: a saliva é a principal forma de transmissão, tanto da FIV, quanto da FeLV.
Contudo, embora a saliva seja um ponto em comum, há uma diferença importante no perfil de transmissão de ambas as doenças.
“A FIV é mais transmitida no ato da mordedura, por outro lado, a FELV possui um perfil mais social, ou seja, felinos que tomam banho juntos, que compartilham fômites (caixas de areia, vasilhas de água e alimento), tendem a contrair o vírus por esse caminho mais indireto.”
- Dra. Isadora Fappi
Ainda segundo a Dra. Isadora, outros cenários que podem desencadear a transmissão dos vírus são:
- transmissão uterina: gatas infectadas com FeLV podem transmitir o vírus para os filhotes ainda durante a gestação. Além disso, a amamentação também pode ser uma via de transmissão;
- transmissão via acasalamento: estudos indicam que o vírus da FeLV pode estar presente no sêmen de machos infectados, aumentando o risco de transmissão durante a cópula. Além disso, no ato do acasalamento, os machos mordem o pescoço das fêmeas, o que pode levar ao contágio da FIV por meio da saliva;
- transfusão de sangue: um gato positivo para FIV ou FeLV pode transmitir o vírus para outro pet por meio de transfusões de sangue. Por isso, é fundamental que gatos doadores passem por uma testagem rigorosa para garantir que estão livres de agentes infecciosos antes de qualquer procedimento.
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Os efeitos da FIV no gato
A FIV afeta o sistema imunológico do gato, tornando-o mais vulnerável a infecções e outras doenças ao longo da vida. Nos primeiros estágios, os efeitos podem ser relativamente mais leves e até passar despercebidos, como febre transitória, apatia e variação no apetite. Porém, progressivamente, complicações mais graves podem surgir.
“Em quadros mais avançados, é comum ocorrerem sinais degenerativos ou proliferativos. Em outras palavras, sinais de doenças crônicas ou neoplasias”, explica a Dra. Isadora Fappi.
Entre os sinais mais comuns em estágios avançados da FIV, destacam-se:
- emagrecimento progressivo;
- lesões inflamatórias e úlceras na cavidade oral;
- dificuldade para se alimentar;
- secreção nasal e ocular;
- dificuldade para respirar;
- problemas renais;
- entre outros.
Os efeitos da FeLV no gato
Assim como acontece com a FIV, os efeitos da FeLV em estágio inicial podem ser mais leves, incluindo sinais como febre transitória, apatia, letargia e apetite variável.
Com o tempo, a FeLV pode comprometer gravemente a saúde do gato, levando a uma série de complicações. Como explica a Dra. Isadora Fappi, a FeLV apresenta diferentes subtipos, o que significa que a doença pode se manifestar de formas variadas:
“Por mais que ela carregue consigo o nome ‘leucemia’, raramente a causa. É muito mais frequente a ocorrência de anemias arregenerativas (quando a medula óssea não consegue produzir glóbulos vermelhos em quantidade suficiente), quadros de doenças inflamatórias crônicas e desenvolvimento de neoplasias.”
- Dra. Isadora Fappi
Como essas neoplasias podem surgir em diferentes partes do corpo, os sinais clínicos variam conforme a localização. Até por isso, uma coisa é certa: a avaliação periódica de gatinhos com FeLV é vital para identificar a formação de tumores de forma precoce.
“É muito comum atendermos felinos jovens com distrição respiratória, FELV positivos, e ao avaliar área torácica nos deparamos com tumores mediastinais. Felinos FELV + possuem 60x mais probabilidade de desenvolvimento de neoplasias, se comparados aos animais soronegativos.”
- Dra. Isadora Fappi
Como saber se o gato tem o FIV ou FeLV?
Segundo a Dra. Isadora Fappi, o primeiro passo é testar todos os gatos do ambiente, tanto no primeiro contato com um novo pet quanto ao longo da vida.
O teste mais comum para a identificação de FIV e FeLV é o SNAP. Porém, um resultado negativo não descarta completamente a possibilidade de o gato ser portador da FeLV, já que o vírus pode estar em estado latente no organismo.
“Eles são os famosos gatos regressores FELV, em que podemos ter um teste rápido negativo, porém com sinais clínicos sugestivos da FELV. Aí entra a importância de uma nova testagem com técnica diferente, como, por exemplo, RT-PCR, o qual irá procurar por traços do genoma viral dentro das células felinas. Havendo o chamado DNA proviral, o felino é sim portador da FELV.“
- Dra. Isadora Fappi
Outro fator importante é que um gato inicialmente negativo pode positivar ao longo da vida, caso entre em contato com o vírus em algum momento. Por isso, além do teste inicial, os médicos veterinários recomendam retestar o gato sempre que ele adoecer, garantindo um diagnóstico atualizado.
Dica: Quer levar seu gato ao médico veterinário sem estresse? Assista ao vídeo!
Vet Responde – Como levar seu gato ao veterinário sem stress – Dr. Marcelo Quinzani
Como lidar com gatinhos positivados?
Receber o diagnóstico de FIV ou FeLV no seu gatinho pode ser assustador, mas calma! Isso não significa que ele está condenado ou que não pode levar uma vida feliz. Com alguns cuidados e acompanhamento veterinário adequado, é totalmente possível oferecer bem-estar e qualidade de vida ao seu amigo.
A primeira coisa a se ter em mente é que o carinho, o ambiente seguro e os cuidados diários fazem toda a diferença.
Muitos gatos soropositivos vivem anos sem apresentar complicações, desde que tenham uma rotina bem estruturada e o suporte necessário. O segredo está em prevenir infecções, garantir alimentação adequada e monitorar a saúde do pet de perto.
Fora isso, é importante ter o cuidado para evitar o contágio de outros gatos. Por isso, o gatinho positivado deve ficar em um ambiente separado ou conviver apenas com pets que também sejam positivos.
Como evitar FIV e FeLV?
Como não há cura para FIV e FeLV, evitar o contato com o vírus é a única forma de impedir que elas afetem a saúde e o bem-estar do seu pet. Ou seja, o melhor caminho é a prevenção, e ela começa lá nos primeiros dias.
“Ao adotar um novo gatinho, o mesmo deve ficar em área separada dos outros gatos da casa. Isso é um aliado comportamental e, claro, sanitário, para prevenir a disseminação de doenças e tensões entre felinos. Um completo exame físico, somado à testagem retroviral, guia o médico veterinário para planejar o protocolo vacinal e os primeiros cuidados de vida do seu amigo.“
- Dra. Isadora Fappi
Outro ponto importante na prevenção dessas doenças tem a ver com o estilo de vida dos gatinhos.
“Muitos gatos têm acesso livre a áreas de pátio e rua, o que traz risco não só de contrair doenças infecciosas como também de traumas, quedas e atropelamentos. Telar janelas, estar junto do felino enquanto o mesmo circula em área externa, adaptar ele ao uso de guias peitorais são ferramentas para não restringir completamente as saidinhas.
- Dra. Isadora Fappi
A castração também é uma medida que pode contribuir para a prevenção das doenças, principalmente por eliminar a transmissão da FeLV por meio do acasalamento. Mais do que isso, é uma medida que tende a reduzir comportamentos de risco, como fugas e brigas por território, além de auxiliar no controle populacional.
Por fim, mas definitivamente não menos importante, temos a vacina quíntupla felina (V5), que inclui proteção contra a FeLV. Ela é aplicada a partir da orientação de um médico veterinário, que considera o status retroviral do paciente para definir o protocolo vacinal.
Estamos prontos para atender o seu gatinho com o cuidado e carinho que ele merece! Agende uma consulta no Pet Care!
Produzido em parceria com a Dra. Isadora Fappi Scherer, médica veterinária especializada em clínica médica de pequenos animais do Pet Care. CRMV 12842/SC