Na semana passada atendemos dois cães da raça Collie que moram na mesma casa e que foram medicados pelo proprietário, SEM PRESCRIÇÃO MÉDICA, com 2 comprimidos de Ivermectina para cada um deles.
Depois de 3 horas começaram a apresentar alteração de comportamento, tremores musculares involuntários e incoordenação motora. Foram atendidos na emergência, induzido o vômito (pois fazia pouco tempo da ingestão) e depois de 48 horas já estavam de alta.
Tiveram muita sorte, pois conseguimos atender a tempo de induzir o vômito e eliminar o produto do estômago, mas nem sempre isso acontece e nesse caso poderiam ficar semanas internados com complicações decorrentes da intoxicação.
A Ivermectina é um medicamento antiparasitário usado há anos na medicina veterinária em grandes animais (cavalos e vacas). Hoje em dia é muito usada também em humanos (para tratar escabiose) e em cães e gatos com algumas restrições, pois pode ser tóxico e as vezes fatal para algumas raças.
Esse medicamento é usado no tratamento de Doenças do Verme do Coração (Dirofilariose), Sarnas (Escabiose e Demodecidose) e Sarnas de Orelha (Otoacaríase) e controle de Vermes Intestinais.
Os produtos comercializados com esse principio são o Cardomec®, Ivomec®,, Endogard®,, Mectimax®,, Revectina®, entre outros.
Infelizmente a Ivermectina não pode ser usada em cães das raças Collie, Pastor de Shetland (Mini Collie), Border Collie, Sheepdog, Bearded Collie, Pastor Australiano e seus cruzamentos. Além dessas raças existem aqueles animais que por uma alteração genética também são sensiveis ao medicamento.
As causas mais comuns de toxicidade da ivermectina são devidos a administração de doses excessivas (10-20 vezes a dose recomendada) e sensibilidade da raça.
Animais muito jovens, animais das raças citadas acima e os animais com histórico de traumatismo craniano ou outras doenças do sistema nervoso central que afetam a barreira hematoencefálica parecem ter um risco aumentado de intoxicação.
Essa característica permite a passagem de ivermectina para o cérebro em baixas dosagens, causando intoxicação. Os cães que apresentam essas características podem, além da Ivermectina , se intoxicar com outros fármacos relacionados abaixo, que devem ser evitados ou utilizados em doses mais baixas em raças susceptíveis de acordo com a avaliaçãodo Médico Veterinário.
– Selamectin
– Milbemycin
– Moxidectina
– Loperamida
– Acepromazina
– Butorfanol
-Vincristina
– Vinblastina
-Doxorrubicina
A toxicidade pode ocorrer a partir de uma dose única ou a partir de doses diárias.
SINTOMAS:
Os sinais podem ocorrer de forma aguda ou subaguda. Os sinais agudos desenvolvem-se frequentemente dentro de 4 a 12 horas de exposição ao medicamento. Os sinais subagudos, muitas vezes, podem ocorrer com 48 a 96 horas de exposição ao medicamento.
Os sinais mais comuns são:
* Pupilas dilatadas
* Depressão
* Salivação excessiva
* Vômitos
* Tremores
* Desorientação
* Fraqueza
* Ficar em decúbito (deitado)
* Cegueira
* Batimento lento do coração.
* Anorexia (falta de apetite)
* Estupor
* Respiração lenta
* Coma ou morte
DIAGNÓSTICO:
Diagnóstico se baseia na possibilidadeou certeza de uso do medicamento, de ser uma raça sensível a medicação e descartando outras possibilidades para as alterações neurológicas citadas acima.
Nomalmente os exames de hemograma e bioquimicos estão normais e somente a gasometria pode ter alterações compatíveis com a depressão respiratória.
TRATAMENTO:
O tratamento é em grande parte de suporte e sintomático, já que não existem agentes de reversão específicas disponíveis para tratar a toxicidade da ivermectina. Caso a ingestão do medicamento tenha sido recente (de 4 a 6 horas), podemos induzir o vômito e a lavagem gástrica com o objetivo de eliminar o medicamento ou diminuir a sua absorção.
CUIDADOS GERAIS PARA O CÃO COM ALTERAÇÕES NEUROLÓGICAS CAUSADAS PELA IVERMECTINA :
– Fluidoterapia de suporte (soro na veia) e reposição de eletrólitos.
– Suporte nutricional por tubo esofágico.
– Cama adequada, mudar frequentemente de posição, fisioterapia, lubrificante para os olhos controle de temperatura e sonda urinária.
– A ventilação mecânica (respirador) podem ser indicada para aqueles com dificuldade respiratória.
– Anticonvulsivantes se necessário.
PROGNÓSTICO:
O prognóstico depende da gravidade dos sinais clínicos, da raça e daquantidade de medicamento usado. Alguns animais de estimação podem exigir dias ou mesmo semanas de cuidados de suporte.
PREVENÇÃO:
Somente use medicamentos com a prescrição do Médico Veterinário e não deixe medicamentos ao alcance dos animais (muitos são palatáveis). Se você tem uma raça suscetível (descrita acima), considere a possibilidade de não usar esses medicamentos.