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O chocolate é altamente palatável e muito atraente aos cães e freqüentemente de fácil disponibilidade o ano todo (mas principalmente na Páscoa) e comumente  recebem chocolates dos donos ou roubam aqueles que ficam acessíveis.

O chocolate é constituído por carboidratos, lipídios, aminas biogênicas, neuropeptídeos e metilxantinas  (teobromina e cafeína).

São justamente as metilxantinas os maiores causadores de intoxicação em cães. A quantidade de teobromina varia de acordo com o tipo de chocolate. Quanto mais matéria lipídica possuir, menor será o teor de teobromina, como por exemplo, os chocolates brancos, que não oferecem tanto risco de intoxicação para os cães. Quanto mais escuro, “puro e concentrado”, for o chocolate, mais teobromina possui e conseqüentemente maior o risco de intoxicação. Assim sendo o chocolate amargo, utilizado em confeitarias para fazer doces é o que oferece maior risco de intoxicação, pois possui em torno de 1,35% de teobromina. No chocolate branco esse teor gira em torno de 0,005%.

A dose tóxica para cães é em torno de 100-150 mg por kg de peso e a dose letal situa-se entre 250-500 mg por kg de peso. Se um cão de 2,2 kg de peso ingerir uma dose de 113,4 gramas de chocolate ao leite, essa quantidade já é tóxica. Já se esse mesmo animal comer 12,9 gramas de chocolate amargo essa também será uma dose tóxica, pois a quantidade de teobromina vai variar nos diferentes tipos de chocolates existentes no mercado. Já um cão de 31,7 kg, para se intoxicar precisa ingerir 2.268 gramas de chocolate ao leite ou 185,8 gramas de chocolate amargo.

A metabolização das metilxantinas no cão encontra algumas particularidades que tornam a sua ingestão altamente perigosa. Sendo um componente altamente lipossolúvel, vai atravessar as barreiras placentárias e hematoencefálica facilmente, sendo absorvida em boa parte do trato digestivo, principalmente estomago e intestino. Uma vez absorvido e distribuído no organismo, no sistema nervoso central vai competir com a adenosina, que é um inibidor pré-sináptico neuromodulador, levando então a excitação. A cafeína estimula diretamente o miocárdio (músculo cardíaco) e o sistema nervoso central, potencializando a excitação causada pela teobromina.

Outra particularidade da teobromina é a sua meia vida, ou seja, o tempo que fica agindo no sangue do animal. No cão a meia vida da teobromina é de 17,5 horas, podendo ficar no organismo por até 6 dias, pois sua eliminação não acontece pelos rins, somente por via hepática.

Em grandes quantidades no organismo do cão, a teobromina vai causar, excitação, hipertensão moderada, bradicardia ou taquicardia, arritmias (contrações ventriculares prematuras), tremores, ofegância, e incontinência urinária. Já a cafeína vai levar a taquicardia, taquipneia, hiperexcitabilidade, tremores e por vezes convulsões.

Os sinais clínicos são: vômito, diarréia, polidipsia e poliúria (bebe mais água e urina mais), náuseas e arritmias cardíacas. Podem apresentar incontinência urinária, hipertermia (aumento da temperatura corpórea) e em casos mais graves coma e morte. Hemorragia intestinal pode ocorrer em alguns casos normalmente entre 12 e 24 horas após a ingestão.

O tamanho do cão também influencia na intoxicação: geralmente a intoxicação é mais comum em animais de pequeno porte, pois há maior quantidade de chocolate disponível em relação ao seu peso corporal. É mais comum também em animais mais jovens e filhotes, pois sua curiosidade natural faz com que ingiram grandes quantidades de alimentos estranhos. As quantidades tóxicas não necessariamente precisam ser ingeridas de uma única vez, já que a teobromina pode permanecer no organismo por até seis dias. Em conseqüência disso, doses repetidas em dias sucessivos também podem levar à intoxicação.

Infelizmente não existe antídoto para a intoxicação com teobrominas e então o tratamento deve ser de suporte para os sintomas apresentados. Trata-se de uma emergência médica e a intervenção do Médico Veterinário se faz necessária e na maioria dos casos a internação é recomendada. Se a ingestão for recente (até 3 horas) a indução ao vômito deve ser instituída. Como o chocolate por sua constituição lipídica, tende a ficar “grudado” na mucosa gástrica, a lavagem gástrica pode ser feita, principalmente se a indução ao vomito não for satisfatória ou se já fizer mais tempo de ingestão. A fluidoterapia deve ser instituída para correção de distúrbios eletrolíticos, alem da rehidratação do paciente. O diazepan pode ser usado para diminuir a excitabilidade assim como controle das convulsões; as arritmias devem ser corrigidas e o fluxo urinário deve ser mensurado. O uso de carvão ativado pode diminuir a absorção das teobrominas, diminuindo a sua meia vida.

Caso a ingestão seja de chocolate branco ou um chocolate com baixa concentração de teobromina o que pode ocorrer é somente um quadro gastroentérico (vômito e diarréia) devido a presença de lipídios e nesse caso os sintomas serão mais discretos e o prognóstico poderá ser bom, com uma rápida recuperação do animal, depois do tratamento sintomático.

M.V. Marcelo Quinzani

Hospital Veterinário Pet Care

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