Dra. Vanice Correto Dutra Allemand
O paladar é um sentido que permite reconhecer os sabores e também a textura dos alimentos, sendo a língua o principal órgão relacionado a ele. Na língua há estruturas receptoras das substâncias químicas dos alimentos, os botões gustativos, localizados nas papilas. Acontece que os cães e gatos possuem muito menos papilas gustativas do que os seres humanos.
Para se ter uma ideia, enquanto os seres humanos possuem cerca de 9.000 papilas, os gatos possuem cerca de 500 papilas e os cães cerca de 1.500. Em compensação, o odor dos alimentos é um atrativo muito mais importante para os cães e gatos, pois o cão possui uma superfície olfatória cerca de 10 vezes maior do que a dos gatos, e esses, por sua vez, 10 vezes maior do que a dos seres humanos.
Isso faz com que eles sejam atraídos inicialmente pelo odor dos alimentos, pela textura e depois pelo gosto dos mesmos. Além disso, influenciam no paladar as preferências individuais e o meio ambiente, além do alimento propriamente dito.
Cada indivíduo tem sua preferência inerente, mas a presença de alguma doença pode interferir, assim como a idade do animal e fatores relacionados ao ambiente em que ele vive (como por exemplo a presença de outros gatos ou cães, indivíduos sob estresse, etc…). Também podem influenciar nas preferências alimentares a raça do felino e o fato de ser ou não castrado.
Os gatos se interessam por alimentos novos, e tendem a experimentar alimentos com cheiros diferentes dos que estão habituados. Isso também depende da conservação do alimento. Por exemplo, a ração que é retirada de um pacote que acaba de ser aberto está mais crocante, exalando mais odores.
O mesmo acontece com um sachê que acaba de ser aberto. É bastante diferente de uma ração seca que já está há algumas horas ou até dias no comedouro ou de um sachê que ficou guardado na geladeira. Aliás a temperatura do alimento também influencia na palatabilidade. O alimento úmido deve ser oferecido preferencialmente em temperatura ambiente ou aquecido.
A maior preferência dos gatos é pelas proteínas de origem animal (carne vermelha, frango, entre outras). Os gatos são carnívoros estritos e necessitam que a maior parte das calorias contidas em sua dieta sejam originárias de proteína animal. Entretanto é muito difícil suprir todas as necessidades nutricionais apenas com alimentos naturais, pois na natureza ele supre suas necessidades caçando e comendo suas presas. Porém quando caça, o gato come sua presa inteira (inclusive órgãos, pele, ossos), obtendo assim as vitaminas e aminoácidos de que necessita, o que é quase impossível de se reproduzir oferecendo o alimento natural para o felino em casa.
Como deve ser a dieta dos gatos?
Os gatos devem ter como base uma dieta balanceada nutricionalmente, o que é suprido pela maioria das rações industrializadas. Além disso, caso o indivíduo não tenha nenhuma restrição ou alergia alimentar ele pode receber petiscos industrializados e proteínas de origem animal, como carne, frango, atum… Eles não devem comer doces e deve-se tomar cuidado com plantas, pois algumas podem ser tóxicas (como o lírio, a azaleia, entre outras).
Como deve ser composta a dieta dos felinos?
Cerca de 90% da dieta do paciente deve ser composta por ração industrializada ou sachês que contenham a inscrição “alimento completo”, pois eles são a garantia de que os animais receberão a quantidade adequada de aminoácidos e vitaminas de que necessitam. Eles podem receber sachês e dietas úmidas como forma indireta de fornecimento de água. Essas dietas podem ser complementadas com alimento natural (carne de frango, ou carne vermelha, por exemplo) como forma de prêmios.
O alimento oferecido deve ser sempre fresco, recém retirado do pacote, pois dessa forma ele preserva os nutrientes, a crocância e o odor. O sachê ou patê pode ser a aquecido, para aumentar a palatabilidade do alimento. A variedade pode ser uma opção, caso o gato não tenha contraindicação. Para conseguirmos aumentar a aceitabilidade do alimento, podemos tentar comprar pacotes menores, assim ele será sempre fresco.
Será que é bom a gente variar a dieta dos gatos?
Se a gente variar demais os alimentos, o problema é criar um hábito, pois desta forma o gato pode sempre ficar aguardando o alimento novo. Além disso, devemos levar em consideração que o gato tem hábito alimentar petiscador, ou seja, come pequenas porções, várias vezes ao dia. Só conseguimos ter certeza de que o animal não está se alimentando adequadamente caso ele perca peso.
O que oferecer em termos de alimentação para os filhotes?
Os filhotes devem ser apresentados a diferentes tipos de alimento: ração seca, patês, sachês, carne cozida, peixe, etc… Isso serve para que o gatinho consiga futuramente reconhecer e aceitar os diversos tipos de alimento, o que facilita caso ele precise de algum alimento especifico na maturidade.
A ração seca e ração úmida
A ração seca tem todos os nutrientes adequados aos gatos. Deve-se administrá-la na quantidade adequada, para que o animal não apresente obesidade, e deve-se promover a ingestão de água e de alimentos úmidos, a fim de se obter o equilíbrio hídrico do mesmo. E os sachês podem ser ofertados todos os dias, se possível.
Os gostos peculiares dos gatos com relação à comida é uma questão comportamental ou fisiológica?
A nutrição é composta por fatores inerentes ao indivíduo, ao tipo e composição do alimento e ao meio ambiente e como o gato se relaciona com ele.
É claro que a alimentação é um fator principalmente fisiológico, já que a anorexia pode leva-lo a óbito. Mas existem preferencias individuais com relação a sabor, textura, tamanho do grão da ração, além de preferencias sobre ração seca ou úmida. Gatos que vivem num ambiente com muitos outros indivíduos, ou com cães, podem ter medo de chegar ao comedouro, para não confrontar os contactantes, ou podem comer demais, por ansiedade. Enfim, deve-se considerar o conjunto ambiente, indivíduo e alimento.