Elieser colocou o terno de costume, preto, surrado já com alguns pequenos remendos, mas afinal quem necessita comprar roupa nova a cada 10 anos ?…. O escritório ficava a algumas quadras da casa e era lá que ele passava a maior parte do tempo, administrando os negócios, recolhendo os aluguéis de seus imóveis, espalhados por toda cidade.
No caminho Elieser nota a presença de um magro gato preto de grandes olhos amarelos, não fosse pela insistência do gato em lhe dirigir o olhar teria passado desapercebido, na verdade pouca ou melhor, nenhuma importância tinha aquele animal, apertou o passo e chegou no escritório, durante o dia todo atendeu seus credores mas ficou com aquela imagem do gato na cabeça. Era hora de voltar para casa, Elieser resolveu trocar o caminho , ia ter que andar mais, dar uma grande volta mas seu instinto dizia para fazê-lo.
Não adiantou já se encontrava no meio do caminho quando avistou de longe a figura de um gato preto sentado, como se estivesse lhe esperando, não tinha como fugir foi se aproximando e percebeu que era o mesmo animal que havia encontrado pela manhã, novamente sentiu aquele frio correndo pela espinha. O que Arthur havia lhe dito agora retumbava em sua cabeça…”você vai receber a visita de 3 fantasmas….”.
– Olá Elieser, uma hora você se acostuma, existe um motivo para estarmos assumindo a forma destes animais, mas isso só você poderá descobrir.
Elieser fica parado , atônito, tentando digerir as palavras do gato.
-Eu represento o Fantasma do Natal Passado e vou te acompanhar numa pequena viagem. Vamos ?
Antes mesmo de responder ao gato Elieser já se encontrava no meio do campo, a paisagem mudara completamente, a poucos metros havia uma casa , onde alguém cosinhava prazerosamente pois o cheiro exalado da comida era soberbo, e um falatório se podia ouvir vindo da parte da frente da casa. Elieser começa então a reconhecer, havia muito de familiar naquela residência. Sim era a casa da fazenda de sua infância e o cheiro só podia ser da comida de sua mãe, era inesquecível mesmo após tantos anos tendo se passado.
– Vamos chegar próximo a janela. Disse o gato.
Elieser com certa dificuldade se aproxima,
– Não se preocupe eles não podem te ver , não sabem que você está a observar.
Elieser vê então diante de seus olhos uma bela família reunida, uma criança brincando com seu cachorro, parecia muito feliz, uma linda árvore de Natal com enfeites adornava a sala, sobre a lareira as meias coloridas que sua mãe fazia e enchia de balas e outros doces, o homem sentado numa cadeira espriguiçadeira aproveitando seu cachimbo, fazia um gostoso cafuné na cabeça da criança.
Sim era desta forma que meu pai fazia um carinho, esfregava meu cabelo, e me dizia palavras doces. Pensou Elieser.
Vinda da cozinha aparece uma mulher vistosa, com lindo cabelo loiro uma tez pálida, vestindo um avental florido e carregando uma grande bandeija com um suculento peru de Natal. A criança corre para abraçar a mãe.
Elieser nesta hora ameaça bater no vidro, mas o Gato logo interrompe …
– Você sabe quem são essas pessoas Elieser?
Quase sem palavras Elieser abaixa a cabeça e responde como que querendo espulsar um nó em sua garganta.
-Sim. Minha mãe sempre cozinhou muito bem, até aquela maldita doença tomar conta dos seus pulmões, e meu pai sempre foi muito carinhoso comigo .
– Mas isso é passado – retruca como se quisesse negar o que via.
– Sim, eu sei que é passado, veja você teve momentos felizes no passado, porque guarda tanto rancor? Pergunta o gato .
Elieser fica calado e a paisagem volta a se transformar no caminho que percorria minutos atrás. O Gato continuava na sua frente.
– Bom você já foi avisado, não sou o primeiro nem serei o último a te visitar.
Elieser segue sua rota…
(Continua no próximo post…)