Hoje, 26/03, é comemorado o dia mundial do chocolate e a Páscoa é daqui a alguns dias! Nenhuma época do ano é tão perigosa para os cães quanto ela.
O chocolate é a paixão de muita gente e também pode ser o objeto de desejo de muitos cães. O que eles não sabem, e muita gente também não, é que o chocolate é altamente tóxico para os cães, podendo inclusive matá-los. Nessa época do ano, a presença de um chocolate esquecido sobre a mesa ou mesmo alguns pedaços oferecidos ingenuamente aos cães podem causar intoxicação.
O chocolate é altamente palatável e muito atraente aos cães, porém alguns de seus componentes como a metilxantina (teobromina e cafeína) podem intoxicá-los. Além disso, os seus componentes lipídicos podem causar diarreia e vômitos mesmo se quantidade de teobromina for pequena.
A quantidade de teobromina varia de acordo com o tipo de chocolate. Quanto mais gordura possuir, menor será o teor de teobromina, como por exemplo, os chocolates brancos, que não oferecem tanto risco de intoxicação para os cães. Quanto mais escuro, “puro e concentrado”, for o chocolate, mais teobromina possui e consequentemente maior o risco de intoxicação. Assim sendo, o chocolate amargo, utilizado em confeitarias para fazer doces é o que oferece maior risco de intoxicação, pois possui em torno de 1,35% de teobromina. No chocolate branco esse teor gira em torno de 0,005%.
A dose tóxica de teobromina para cães é em torno de 100-150 mg por kg de peso e a dose letal situa-se entre 250-500 mg por kg de peso. Para se ter uma ideia da quantidade de teobromina nos diferentes chocolates veja abaixo:
– Semente de cacau: 300 a 1500 mg de teobromina em cada 30 gramas.
– Chocolate liquido bruto (industrial): 390 a 450 mg em cada 30 gramas.-
– Chocolate escuro (amargo) : 135 mg em cada 30 gramas.
– Chocolate ao leite: 44 a 66 mg em cada30 gramas.
– Chocolate branco: 0,25 mg em cada 30 gramas.
– Chocolate de confeiteiro em pó: 400 a 737 mg em cada 30 gramas.
Como a quantidade de teobromina varia de acordo com o tipo de chocolate, a intoxicação vai depender da quantidade ingerida. A grande maioria dos chocolates da páscoa são chocolates ao leite (30%) e chocolate branco e, assim, a quantidade de chocolate para causar uma intoxicação pode ser muito grande para cães maiores.
O perigo acaba sendo os cães menores ou quando da presença de chocolate escuro (60 a 80%). Quando a quantidade de teobromina for baixa, o perigo acaba sendo as gorduras que levará certamente a um quadro de vômito e diarreia.
Veja abaixo a quantidade necessária dos diferentes chocolates para causar intoxicação nos diferentes pesos dos animais.
PESO DO CÃO | 100 gr DE CHOCOLATE BRANCO (0,8 MG DE TEOBROMINA) | 100 gr DE CHOCOLATE AO LEITE (200 MG DE TEOBROMINA) | 100 gr DE CHOCOLATE ESCURO (450 MG DE TEOBROMINA) |
2,0 KG | 25 KG | 100 gr | 44 gr |
5,0 KG | 62,5 KG | 250 gr | 111 gr |
10 KG | 125 KG | 500 gr | 222 gr |
15 KG | 187,5 KG | 750 gr | 333 gr |
30 KG | 375 KG | 1500 gr | 666 gr |
A metabolização das metilxantinas no cão encontra algumas particularidades que tornam a sua ingestão altamente perigosa. Sendo um componente altamente lipossolúvel, vai atravessar as barreiras placentárias e hematoencefálica facilmente, sendo absorvida em boa parte do trato digestivo, principalmente estomago e intestino. Uma vez absorvido e distribuído no organismo, no sistema nervoso, levando a excitação. A cafeína estimula diretamente o miocárdio (músculo cardíaco) e o sistema nervoso central, potencializando a excitação causada pela teobromina.
Outra particularidade da teobromina é a sua meia vida, ou seja, o tempo que fica agindo no sangue do animal. No cão, a meia vida da teobromina é de 17 horas, podendo ficar no organismo por até 6 dias, pois sua eliminação não acontece pelos rins, somente por via hepática.
Em grandes quantidades no organismo do cão, a teobromina vai causar, excitação, hipertensão moderada, bradicardia ou taquicardia, arritmias (contrações ventriculares prematuras), tremores, ofegância, e incontinência urinária. Já a cafeína vai levar a taquicardia, taquipneia, hiperexcitabilidade, tremores e por vezes convulsões.
Os sinais clínicos são: vômito, diarreia, polidipsia e poliúria (bebe mais água e urina mais), náuseas e arritmias cardíacas. Podem apresentar incontinência urinária, hipertermia (aumento da temperatura corpórea) e, em casos mais graves, coma e morte. Hemorragia intestinal pode ocorrer em alguns casos normalmente entre 12 e 24 horas após a ingestão.
O tamanho do cão também influencia na intoxicação: geralmente a intoxicação é mais comum em animais de pequeno porte, pois há maior quantidade de chocolate disponível em relação ao seu peso corporal. É mais comum também em animais mais jovens e filhotes, pois sua curiosidade natural faz com que ingiram grandes quantidades de alimentos estranhos.
As quantidades tóxicas não necessariamente precisam ser ingeridas de uma única vez, já que a teobromina pode permanecer no organismo por até seis dias. Em consequência disso, doses repetidas em dias sucessivos também podem levar à intoxicação.
Infelizmente não existe antídoto para a intoxicação com teobrominas e então o tratamento deve ser de suporte para os sintomas apresentados. Trata-se de uma emergência médica e a intervenção do Médico Veterinário se faz necessária e na maioria dos casos a internação é recomendada. Se a ingestão for recente (até 3 horas), a indução ao vômito deve ser instituída.
Como o chocolate por sua constituição gordurosa, tende a ficar “grudado” na mucosa gástrica, a lavagem gástrica pode ser feita, principalmente se a indução ao vomito não for satisfatória ou se já fizer mais tempo de ingestão. Deve receber soro na veia para reidratar e fazer a correção de eletrólitos. As convulsões e arritmias devem ser monitoradas e o uso de carvão ativado pode diminuir a absorção das teobrominas, diminuindo a sua meia vida.
Caso a ingestão, seja de chocolate branco ou um chocolate com baixa concentração de teobromina, o que pode ocorrer é somente um quadro gastroentérico (vômito e diarreia) devido à presença de lipídios e, nesse caso, os sintomas serão mais discretos e o prognóstico poderá ser bom, com uma rápida recuperação do animal, depois do tratamento sintomático.