Home / CÃES E GATOS / Câncer em cães e gatos

Por Alex Lafarti

O Câncer cada vez mais se torna um problema mundial, inúmeros recursos são destinados a pesquisa de novas tecnologias para um diagnóstico mais preciso e precoce e na busca de tratamentos mais eficientes. Na veterinária a oncologia é considerada uma área de grande importância, estima-se que as neoplasmas malignas constituam significativa causa de óbito em animais de companhia. Estudos revelaram que aproximadamente 45% dos cães com idade acima de 10 anos vão a óbito por complicações das neoplasias. E hoje com o aumento da longevidade desses animais domésticos e o avanço no diagnóstico e tratamento das doenças é observado uma crescente incidência das afecções neoplásicas. Apesar da etiologia multifatorial das doenças malignas estima-se que, no ser humano, 50% de todas as causas de câncer sejam teoricamente evitáveis, o que torna evidente a prevenção e para isso, o conhecimento da correlação com os fatores etiológicos, por meio de estudos epidemiológicos.

As causas primárias do câncer ainda não estão totalmente esclarecidas, mas as neoplasmas surgem em decorrência de mutações genéticas espontâneas ou induzidas por agentes químicos, físicos ou biológicos patogênicos. Agentes carcinogênicos, como metais, radiações, vírus, parasitas, toxinas fúngicas, radicais livres de oxigênio, inflamações crônicas e xenobióticos (como tabaco, álcool e pesticidas), entre outros promovem mutações acumuladas nos genes supressores de tumor e nos proto-oncogenes e assim resultam no desequilíbrio nos mecanismos homeostáticos de proliferação e diferenciação celular e de apoptose.

É importante considerar a carcinogênese como multifatorial, relacionada a fatores extrínsecos (radiações ionizantes e ultravioleta, carcinógenos químicos e biológicos) e intrínsecos (endógenos ou microambientais) representados por idade, tipo de dieta efeitos hormonais e predisposição genética. Como exemplo podemos citar a inalação de fumaça de cigarro facilitando o aparecimento de câncer de pulmão, a exposição a inseticidas ligada ao desenvolvimento de câncer de bexiga, a ligação de radiação ultravioleta no aparecimento do carcinoma espino celular , o sarcoma viral e o vírus da leucemia felina.  Podemos ainda encontrar sobreposição de influências bem como sinergismo no aparecimento do câncer. Quanto mais o animal vive aumenta a probabilidade de o organismo acumular alterações moleculares responsáveis pela multiplicação celular desordenada.

Muitos modelos foram criados para tentar explicar a carcinogênese, mas o mais aceito é o da Iniciação, Promoção e Progressão. Onde o estímulo dos agentes potencialmente carcinogênicos atuam na iniciação (de forma irreversível) e na promoção (reversível), enquanto a progressão é um evento sistêmico irreversível, onde as células originam clones com potencial de invasão tecidual e formação de metástase.

De acordo com a literatura 80 % das neoplasias malignas tem origem em estímulos ambientais, porém sabemos que um grande número de neoplasias se desenvolve por mutação espontânea (carcinogênese endógena), em consequência da ação do próprio metabolismo celular (depurinações, desaminações e danos oxidativos do DNA).

Fatores como a alimentação também podem determinar carcinogênese, estudos demostram que animais que receberam alimentação caseira desbalanceada ou com grande quantidade de carne vermelha apresentavam maior incidência de câncer de mama, a obesidade também foi considerada fator influente na gênese dos tumores uroteliais de bexiga em cães.

 

As neoplasias ditas hereditárias estão relacionadas com a perda dos genes supressores de tumor. Indivíduos com anormalidades cromossômicas apresentam maior risco de desenvolver câncer.

Em cães e gatos, certas raças têm mais predisposição para o desenvolvimento dos tumores, as raças de cães grandes e gigantes por exemplo são mais predispostas a apresentarem osteossarcomas, Boxers são mais acometidos por neoplasias, Scottish Terrier apresentam com maior frequência carcinoma de bexiga, Bernese Mountain desenvolvem histiocitose maligna.

Determinados hormônios podem influenciar o desenvolvimento do câncer intensificando a replicação celular e também a progressão de células que já estão acumulando eventos iniciadores. Os estrógenos e em menor proporção a progesterona influenciam o desenvolvimento  do câncer de mama em cães e gatos. Nos cães machos, a testosterona influencia na gênese de adenomas perianais.

O conhecimento da etiologia neoplásica é de fundamental importância na profilaxia dos tumores. A esterilização precoce, orquiectomia em animais criptorquidicos, evitar exposição às substâncias químicas e radiações, consumir dieta balanceada, prevenir infecções virais, ecto e endoparasitarias, evitar fatores de estresse, diminuem a incidência neoplásica em cães e gatos.

Alguns conceitos devem ainda ser ressaltados, como as alterações adquiridas pela célula maligna para levar a patogênese ,os chamados “superpoderes” , como a autossuficiência em sinais de crescimento proliferativo, insensibilidade aos sinais inibidores de crescimento, evasão da apoptose, potencial de replicação ilimitado, capacidade de angiogênese (formação de novos vasos sanguíneos a partir de um endotélio vascular preexistente), indução de evasão e metástase, evasão do sistema imune e desregulação da energética celular. Além das células neoplásicas, os tumores exibem outra dimensão de complexidade, eles contém um repertório de células recrutadas, aparentemente normais, que contribuem para aquisição de traços característicos, criando o “microambiente tumoral”.

 

As células de origem tumoral são denominadas células tronco-tumorais , essa pequena população inicial, se divide de forma assimétrica, dando origem a uma célula semelhante a ela própria, (autorenovação), e a outra diferenciada, o que , ao longo das divisões sucessivas dá origem a células em diferentes estados de diferenciação. Desse modo os tumores apresentam células em diferentes estágios de proliferação e diferenciação, o que define o conceito de heterogeneidade intratumoral, assim cada subpopulação apresenta um perfil gênico e protéico distinto, diferindo, portanto, quanto a agressividade e a sensibilidade ao tratamento.

Durante o processo de estabelecimento e progressão do câncer, a angiogênese permite que o tumor tenha sua própria rede vascular, facilitando o crescimento tumoral e contribuindo para o processo metastático. E sse crescimento da rede vascular no tumor acontece de modo descontrolado e continuo, e é regulado por inúmeros fatores pró e antiangiogênicos secretados e estimulados muitas vezes pelas próprias células tumorais.

Todo esse conhecimento é utilizado para prevenir e tratar de forma mais adequada um indivíduo com câncer. Novas drogas e tratamentos com multimodalidades tem ajudado a aumentar a qualidade de vida de nossos pacientes, mas a cura ainda esta um pouco distante , pesando assim a melhor forma de prevenir o desenvolvimento dessa doença é o diagnóstico precoce . Exames periódicos devem ser estabelecidos após os 4 anos para animais de raças grandes e após os 6 anos para animais de raças médias e pequenas. Os exames de imagem pouco invasivos como Ultrassom de abdome e Raio X de tórax assim como a análise de hemograma  e bioquímico ( função renal e hepática, dosagem de eletrólitos, triglicérides e colesterol , glicemia e frações protéicas) devem ser realizados anualmente. Assim identificamos alterações que possam estar ligadas diretamente ou que possam facilitar o aparecimento do câncer.

(Baseado em informações do livro Oncologia em Cães e Gatos de Carlos Roberto Dalek e Andrigo Barbosa de Nardi)

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