Você não precisa esperar que algo dê errado para buscar ajuda especializada no comportamento do seu pet. Muitos tutores procuram por um adestrador de cães, mas o ideal é contar com um médico veterinário comportamentalista, que vai além da correção de comportamentos. Ele prepara o pet para viver bem em família, lidar com estímulos do dia a dia e responder com segurança em diferentes situações.
Ensinar um cão a se comportar é também uma forma de promover bem-estar, evitar frustrações e fortalecer o vínculo entre vocês. E com a orientação certa, tudo isso acontece de forma respeitosa, sem punições ou métodos nocivos.
Neste artigo, que conta com a contribuição da Dra. Luiza Cervenka, especialista em comportamento animal, você vai entender quando o adestramento de cães é indicado, quais métodos funcionam, como adestrar um cachorro filhote da maneira certa e muito mais. Continue a leitura e descubra como transformar a convivência com o seu pet.
O que é o adestramento de cães?
Segundo a Dra. Luiza Cervenka, o adestramento de cães é uma técnica que reforça positivamente os comportamentos desejados do animal.
Quando você mostra para o pet o que ele deve fazer, o que é esperado dele e por que isso vai ser bom, aumentam as chances de ele repetir aquele comportamento. Dessa forma, essa prática ajuda na comunicação.
A partir do momento em que você consegue dizer o que quer, e o cachorro entende isso, a conexão entre vocês só aumenta.
O adestramento deve ser visto como uma ferramenta de ensino, além de que também ajuda no desenvolvimento cognitivo dos cães.
Quando ensinamos novos treinos, truques e damos dicas de comportamento, a parte mental deles é estimulada.
Quando o adestramento é indicado?
O adestramento de cães é indicado para qualquer cachorro, independentemente da idade, raça ou porte.
Engana-se quem pensa que essa prática serve apenas para corrigir maus comportamentos. Como falamos, ela também é uma poderosa ferramenta de promoção do bem-estar.
Com o suporte de um médico veterinário comportamentalista, é possível reduzir quadros de ansiedade, evitar comportamentos compulsivos, melhorar a socialização e até prevenir problemas de saúde relacionados ao estresse crônico.
Além disso, o adestramento ajuda o cão a lidar melhor com mudanças na rotina, introdução de novos membros na família ou experiências que podem ser desafiadoras, como idas ao médico veterinário ou passeios em locais movimentados.
Cães com tendência à reatividade, medos excessivos ou comportamentos agressivos também se beneficiam muito de um acompanhamento especializado.
Quando feito com técnicas respeitosas e baseadas em reforço positivo, o adestramento não só modifica comportamentos, como também ajuda o pet a desenvolver confiança e inteligência cognitiva.
Em resumo, o adestramento é indicado para oferecer mais qualidade de vida ao pet, seja para moldar o comportamento desde filhote, seja para reverter padrões já consolidados em um cão adulto.
Como funciona: o que um cachorro aprende quando é adestrado?
O adestramento clássico ensina o cachorro a sentar, deitar, rolar, dar a pata, ficar, soltar, etc. Esses comandos são importantes para ajudar na comunicação.
O adestramento de cães também pode ensinar o cachorro a ter controle emocional e tornar o relacionamento familiar mais agradável.
Por exemplo: ao invés de pular e latir quando você chega em casa, seu cão pode ser ensinado a esperar na caminha para ganhar carinho. E é claro que isso precisa acontecer, para que ele não fique frustrado.
Da mesma forma, ao invés de passear afobado, o cão pode ser ensinado a caminhar tranquilamente ao seu lado. Será muito melhor para ele aprender a curtir o passeio ao invés de ser ansioso.
É sempre melhor que o seu cão aprenda de forma guiada. O profissional de comportamento vai considerar as necessidades naturais dele e a sua expectativa.
O aprendizado da forma correta evita hábitos indesejados no futuro e frustrações tanto do cachorro quanto da família.
Quando começar o adestramento de cães?
Você provavelmente já se perguntou a partir de que idade o adestramento de cães pode ser iniciado.
Saiba que todo cão deve passar por um processo de aprendizado formal. O ideal é que o filhote fique com sua mãe até os 60 ou 70 dias de idade. Assim que ele chegar à sua casa, você já deve começar o adestramento.
Se o seu cãozinho chegou adulto, não tem problema. Os cães estão sempre aprendendo e podem ser ensinados a qualquer momento.
“Todo cachorro é passível de aprendizado, diferente dos seres humanos. Eles não julgam a situação e adoram desafios. Se você ensinar um comportamento novo, ele vai amar. É a partir do desafio que o corpo libera a dopamina, que é extremamente prazerosa para os cães”, comenta a Dra. Luiza.
Se o seu cão já apresenta algum desvio de comportamento ou hábito indesejado, é hora de procurar um especialista em comportamento também. Se possível, agende uma consulta antes mesmo da chegada do seu cão.
Qual a melhor forma de adestrar um cachorro?
Você deve preparar o ambiente com todos os recursos que ele vai precisar para executar seus comportamentos naturais. Há algumas formas específicas, mas o ideal é contar com o apoio de um profissional.
Enriquecimento ambiental
Os cães têm necessidades naturais, da própria espécie. Para que seu cachorro aprenda de forma correta, é importante trabalhar o ambiente onde ele vive.
Quer um exemplo? Para ensinar o cachorro a fazer as necessidades no lugar certo, como no tapete higiênico, não basta você determinar o lugar.
Não adianta colocar o tapetinho longe de onde ele fica ou em um local barulhento. É preciso facilitar o acesso, ou seja, ajudar o cachorro no aprendizado, entendendo suas necessidades.
Outro exemplo: roer é um hábito natural dos cães. Por isso, você deve providenciar mordedores adequados para que eles possam expressar esse comportamento, caso contrário, seus móveis correrão riscos.
Por meio do adestramento é possível reforçar positivamente que é mais legal morder os brinquedos do que o pé da cadeira.
Reforço positivo
Quando você quiser ensinar ao seu cão algum comportamento, elogie, fale fininho, faça carinho ou dê um petisco que ele goste muito.
Aos poucos, ele vai entender que esse comportamento traz recompensa e que é melhor agir dessa forma. É com amor e respeito que se ensina os cães o que a gente deseja.
Nunca utilize nenhum tipo de punição, seja uma bronca, um spray de água, um colar de impulso elétrico ou um som que ele não goste durante o aprendizado.
Quando se usa qualquer coisa aversiva, o cachorro sente apenas medo e ele não aprende que aquele comportamento é inadequado.
Recursos punitivos podem deixar seu cachorro confuso, afinal, ele não vai saber o que esperar de você: uma hora você é legal, outra hora você o agride.
Enquanto o reforço positivo te aproxima do seu cão, a punição gera insegurança, causa ansiedade e pode levar a outros problemas comportamentais. Cães aprendem por opção e não por obrigação.
É preciso ensinar os pets que determinados comportamentos valem mais a pena do que outros.
Ensinar o seu cachorro deve ser um momento leve e divertido. Essa história de falar duro ou ser bravo com ele não existe! Quanto mais parceiro você for do seu cão, melhor ele vai te atender.
Quanto tempo dura o adestramento?
As sessões de adestramento de cães devem ser curtas, de 40 minutos, para que seu melhor amigo não se canse, não se frustre e associe o aprendizado a algo legal.
Por que é importante entender a natureza dos cães?
Quantas vezes nos queixamos de coisas que os cães fazem e que são absolutamente normais para eles?
Fazer xixi fora do lugar com 5 meses pode não ser birra. Nessa idade, o esfíncter dos cães ainda não terminou de se formar.
E se eles destroem todos os brinquedos? Oras, eles foram feitos para isso mesmo, cães são predadores naturais.
Quando a gente estuda sobre a espécie, passa a compreender muitas atitudes. Lembre que o cão deve ter suas particularidades respeitadas.
Enxergar o cachorro como um bibelô ou como um ser que existe para atender às suas expectativas é injusto com ele, mas infelizmente, é muito mais comum do que imaginamos.
Para algumas pessoas, os cães ainda são vistos de uma maneira utilitária. Ele pode ser o cão de guarda, que só tem essa função, o “brinquedo das crianças” ou um ser responsável por curar a sua carência.
Cães não estão aqui para servir e sim para fazer parte da família. Aprender a respeitar a sua individualidade e seus limites, propiciando o ambiente onde ele possa executar seus comportamentos naturais, é fundamental.
Para os cães, o mundo ideal é cheio de descobertas e novidades. A frustração leva a desvios comportamentais ou comportamentos indesejados pelas pessoas. Por isso, o adestramento deve ser individualizado.
Assim como nós somos diferentes uns dos outros, cada cão é um cão. Um bom profissional vai respeitar as necessidades de cada cachorro e entender o que a família espera dele, além de trabalhar os comportamentos indesejados.
Por isso, dois cachorros da mesma ninhada podem ter processos de aprendizado completamente diferentes.
Um filhote estimulado frequentemente, em um ambiente adequado, será muito mais responsivo que um filhote que passa a maior parte do tempo no quintal sem estímulos, por exemplo.
Por isso, a terapia comportamental não fala em cachorros mais ou menos inteligentes, ou raças mais ou menos inteligentes, e sim de indivíduos estimulados desde cedo.
O que atrapalha o adestramento dos cães?
Mesmo com orientação de um especialista, alguns fatores podem comprometer o processo de aprendizado e tornar o adestramento mais lento ou frustrante — tanto para o pet quanto para a família. E, muitas vezes, esses obstáculos vêm de hábitos comuns, mas pouco percebidos pelos tutores.
Um dos principais erros é a inconsistência. Quando diferentes pessoas da casa dão comandos opostos, reforçam comportamentos indesejados ou não mantêm uma rotina clara, assim, o cachorro acaba ficando confuso.
Para que o adestramento funcione, todos os envolvidos na rotina do pet precisam estar alinhados sobre as regras e as formas de reforçar os comportamentos desejados.
Outro ponto importante é o excesso de expectativa. Muitos tutores esperam mudanças imediatas, mas o adestramento exige paciência, repetição e constância.
Pressionar o animal ou desistir no meio do processo pode gerar ansiedade e afetar o vínculo entre o cão e a família.
Ambientes estressantes, falta de estímulo e punições físicas ou emocionais também atrapalham bastante. Um cachorro que vive em tensão dificilmente consegue aprender com segurança.
Por isso, garanta um ambiente adequado, com enriquecimento ambiental e respeito aos limites individuais do pet.
Além disso, tutores que tentam seguir tutoriais genéricos sem considerar o temperamento, o histórico e as necessidades do cão, muitas vezes têm resultados abaixo do esperado.
Nesses casos, o mais indicado é buscar o apoio de um profissional experiente, que compreenda o comportamento canino em profundidade e aplique métodos compatíveis com a realidade do pet.
Se você quer aprender como adestrar um cachorro com mais tranquilidade, o primeiro passo é evitar esses sabotadores e confiar em um processo personalizado, com acompanhamento profissional e foco no bem-estar.
O adestramento basta para moldar o comportamento dos cães?
Segundo a Dra. Luiza, três fatores definem o comportamento de um cachorro:
- a genética;
- a criação até os 4 meses de idade;
- o ambiente onde ele está inserido.
Mas isso não significa que um pet que não foi educado ou apresenta problemas comportamentais não possa melhorar. Os cães são capazes de aprender a vida toda.
Como escolher um profissional especializado em comportamento canino?
Primeira dica: questionar ao máximo o profissional. O ideal é que o adestrador de cães ou terapeuta comportamental seja da linha positiva e não use nenhum tipo de punição.
Esse profissional deve estar preocupado com o bem-estar e saber explicar cientificamente sobre manejo ambiental, comportamento e modulação comportamental.
Nada é aleatório, para tudo existe uma razão. No caso de um passeador, evite os profissionais que passeiam com 5, 6 ou 10 cães ao mesmo tempo.
O ideal é que ele passeie com 1 ou 2 cães para poder entender suas necessidades e se dedicar a eles. Quantidade não é qualidade.
Por fim, é importante existir sintonia entre você e o especialista. Nas mãos dele estará um importante membro da sua família!